Seu carrinho está vazio no momento!
Refazer é criar? Militão novamente
Na quarta-feira dia 24/02/2016, fiz uma rápida saída fotográfica pelo centro de São Paulo. Foram feitas apenas 4 fotos, os primeiros testes da minha idéia de projeto fotográfico. Ele ainda não tem nome e nem uma direção muito certa. O ponto de partida é recriar algumas das vistas feitas por Militão Augusto de Azevedo na São Paulo de 1862, assim como já feito inúmeras vezes por outros fotógrafos ao longo dos anos. A minha abordagem é recriar as vistas antigas na técnica fotográfica que ele usou na época, o negativo de vidro de placa úmida de colódio.
Acredito que retratar as ruas de hoje com a técnica de 1862 irá trazer uma representação interessante da SP atual e fazer uma comparação mais próxima (quanto a influência do aparelho fotográfico) com a São Paulo Antiga. Mas isso é uma suposição e essas primeiras imagens e mais algumas, feitas nos ângulos próximos a de Militão irão me mostrar melhor se há um caminho interessante a seguir.
Ademais, senão pelo valor artístico, espero que o lado técnico também agregue um valor a nossa fotografia brasileira. No pouco que pesquisei sobre Militão, observei uma carência e certa imprecisão nas explicações do processo de trabalho com placa úmida. Reconheço que talvez a imprecisão não faça muita diferença aos discursos que geralmente são mais antropológicos do que fotográficos. Porém, também não atrapalha termos a coisa descrita de uma forma mais completa. Acho que existe uma falta mesmo de referências em português sobre a técnica da placa úmida.
Um outro interesse que se destaca é ver os objetos, os negativos de vidro e o que isso implica nas cópias que ele produziu. Pelo que entendi, os negativos originais de vidro usados para a produção das cópias dos álbuns originais se perderam. Os negativos de vidro que existem são já reproduções das páginas dos álbuns feitos bem posteriormente por outro fotógrafo já no século 20. Minha pesquisa incluí presumir o tamanho físico das placas originais e fazer as cópias em papel nas mesmas escolhas de refilamento de Militão. As pessoas poderão ver, mesmo que sendo uma recriação, como que os negativos de Militão se pareciam em sua materialidade.
A imagem que abre esse artigo é um dos negativos que fiz nesta saída do dia 24/2 da rua Roberto Simonsen no centro de SP. É uma vista próxima a de Militão em 1862 quando ainda se chamava Rua do Carmo. Abaixo você pode ver tanto uma reprodução da imagem de Militão (acima) quanto a cópia positiva do negativo feito agora em papel salgado. Uma diferença importante, que abordarei em minha pesquisa é que as imagens de Militão são sempre refiladas nas bordas. Esta cópia em papel salgado mostra o negativo inteiro, com as imperfeições das bordas.
Os únicos prédios originais que restaram é o Solar da Marquesa, o sobrado ao centro e aparentemente a Casa da Imagem. Bem ao fundo da vista, no final da rua, é possível ver a parede lateral da Igreja do Pátio do colégio nas duas imagens. Porém é sempre bom relembrar que a Igreja atual não é a original, foi demolida e reconstruída. Na foto atual o poste de luz cobre parte da vista e fiquei pensando em como resolvê-lo. Eu podia mover a a câmera um pouco para a direita e liberar a vista. Fico pensando o quanto é bom “limpar o enquadramento” ou se é natural deixar os obstáculos modernos atrapalharem a vista, que é o que eles fazem mesmo 😉 Também, mais a direita eu ficaria na rua e numa quarta-feira ela é bem movimentada. Preciso ver se consigo atrapalhar o trânsito por alguns minutos sem ninguém querer passar o carro por cima da câmera.
Gosto de ver como o longo tempo de exposição – 12 segundos – fez os carros da rua sumirem e algumas pessoas ficarem borradas ou desaparecerem totalmente. Ficou parecendo uma rua tão calma quanto em 1862? As duas fotos possuem pessoas indefinidas. Não sei quem são os de 1862 mas já deixo registrado que os de hoje são os funcionários dos estacionamentos, agitando os braços pra chamar os carros pra dentro. Tem também os carros estacionados ao invés da carroça ao fundo em 1862.
Fiz também nesta mesma saída uma vista da descida da Rua General Carneiro. O negativo não ficou muito bom, mas posso abordá-lo em um próximo post.
Vamos ver até onde o projeto anda e quais discussões interessantes que podem surgir com o seu andar. Estou tentando aproveitar as manhãs de sol para fotografar mas é um processo lento de criação. Tentarei uma saída por semana pelo menos nesses próximos meses.
Quem tiver interesse de apoiar essa pesquisa, tanto financeiramente quanto com conhecimento ou o que for, por favor entre em contato comigo! Aliás, ao longo da pesquisa, irei fazer muitas cópias em papel das imagens produzidas, podendo ser em papel salgado, albúmem ou colódio cloreto. Vocês podem comprar essas cópias ou pedir cópias de imagens específicas para ajudar a financiar este trabalho.
Agradeço ao amigo Maurício Sapata por me fazer assistência nesta saída fotográfica e fazer algumas imagens de registro que aqui estão.
Abraços,
Roger H. Sassaki
Deixe uma resposta