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Finalmente conseguimos colocar a antiga câmera 8×10 para funcionar! Nas últimas semanas, estive ocupado construíndo um chassi (peça onde ficam os negativos) para a câmera fotográfica que me foi gentilmente emprestada pelo fotógrafo Wanderlei Camarneiro do Estúdio Foca. Ainda preciso ouvir dele a história completa desta incrível máquina sem modelo ou identificação de fabricante. A pista é uma data talahada à mão embaixo de sua base: “Jan 1967”. Relegada a enfeite já por muitos anos, porém muito bem conservada, foi requisitada por mim para voltar ao trabalho na missão de produzir calótipos. A grande vantagem desta máquina de madeira é conseguir fazer negativos de até 18x24cm em uma folha de 20x25cm (daí o nome 8×10, que é a medida equivalente em polegadas). Pois na época da fotografia em filmes, quanto maior o negativo, maior a qualidade da cópia gerada a partir dele. No caso dos calótipos e muitos outros processos antigos, negativos grandes eram necessários para se fazer cópias grande pois o processo era sempre por contato. Ou seja, a cópia era sempre da mesma dimensão do negativo.
O único porém da câmera é que ela estava sem seu chassi, que é a peça onde se “carregam” negativos. Assim, eu tive que produzir um do zero, baseado em um projeto do livro de Alan Green (Primitive Photography: A Guide to Making Cameras, Lenses, and Calotypes). A dificuldade foi aprender a construir com madeira, o que eu nunca tinha feito. Mas depois de vários rascunhos em papel e algum desperdício de madeira, triunfei!
Os materiais para construir o chassi foram quase todos comprados na Casa Aerobrás em SP. A madeira escolhida foi a caixeta, mais barata (mas assim mesmo cara) e forte que a madeira balsa. Os dois calótipos úmidos são colocados verso com verso entre duas placas de vidro de 2mm no interior do chassi. Entre as duas folhas de calótipo é necessário colocar um “filme rubi”, conhecido em inglês como Rubylith. Devido a sua cor vermelha, ele impede que a luz que está expondo um calótipo passe para o calótipo do lado oposto. Eu achei que seria impossível achar este filme no Brasil, mas encontrei na primeira loja que tentei na “Galeria do Rock” em SP. A loja é a Tele Silk, no 3º andar. Eu comprei o de 50 microns de espessura, que funcionou super bem!
Aproveitando o feriado prolongado e as visitas ao laboratório, resolvemos fazer o test-drive da camera/chassi no centro de SP! Carregamos o chassi com um calótipo 20x25cm de um lado e um de 15x21cm do outro e nos dirigimos para a Praça da Sé. Fomos eu, Fernando Fortes e a Ligia Minami, que estava de passagem e foi alistada para ajudar a carregar as coisas. E chagando pra praça, vimos que o pouco sol do final da tarde, que se escondia entre nuvens de vez em quando, não estava do lado certo, iluminando a frente da Catedral da Sé. No melhor estilo “tá com medo por que veio?” resolvemos fazer nosso primeiro calótipo 8×10 em um contra luz, com uma lente nem um pouco limpa e com um “coating” bem duvidoso.
Os problemas que encontramos, foram a dificuldade de focalizar corretamente pelo visor da câmera e o vento forte que a balançou bastante. Ficou claro que a cabeça de nosso tripé, embora forte, não é muito estável para esta câmera com vento.
- Dados da fotografia da Catedral da Sé
- Fotometria:
- ISO 100; EV 12
- Abertura:
- f/4.5
- Tempo de exposição:
- 15 minutos.
- Tempo de revelação:
- 8 minutos
Depois, corremos para o Pátio do Colégio de SP fizemos nossa fotografia com o negativo 15x21cm que está no começo desta publicação. O local mais protegido do vento que ficamos ajudou bastante na nitidez da imagem. Mesmo assim, percebos que temos que ficar atento a profundidade de campo extremamente pequena desta lente 240mm em f/4.5. Você pode perceber que só o topo o obelisco tem foco. E estávamos uns bons 25m dele.
- Dados da fotografia do Pateo do Collegio
- Fotometria:
- ISO 100; EV 11
- Abertura:
- f/4.5
- Tempo de exposição:
- 25 minutos.
- Tempo de revelação:
- 10 minutos
Algumas pessoas se aproximaram curiosas com a grande câmera fotográfia, mas nenhuma achou que ela estava funcionando. Uma moça até achou que fazíamos parte da cenografia do Pateo do Collégio. 🙂
Nossas rápidas conclusões dos resultados do dia:
– As fotos estavam superexpostas. Chutamos a tempo e parece que exageramos. Isso ficou claro com o tempo de revelação que deveria ser de pelo menos 15 minutos. Existem jeitos de diminuir a velocidade da revelação, mas não o fizemos.
– precisamos ter mais cuidado na sensibilização das folhas e na hora de coloca-las no chassi. Ficaram com muitas manchas!
– É muito divertido fotografar em 8×10!
Abraços!
Comentários
4 respostas para “Calótipo – Estreando a câmera 8×10 no centro de SP”
Muito legal! Tenho um brinquedinho destes, porém em tamanho menor (6.5×8.5). Fiz uma adaptação para para que eu possa usar filme 4×5 e o resultado pode ser visto aqui:
http://www.picturenoise.blogspot.co.uk/search/label/Victorian%20View%20CameraComo vc adptou a camera para aceitar os modelos novos de tripé? Tenho uma idéia mas não sei se é muito viável…
abs
Muito legal a sua câmera!
Tente fazer calótipos com ela.
A base da camera está com um engate de câmera de vídeo meio amarrado com fita hellermann. Não fica super firme mas estava assim e ainda não tive uma idéia melhor. Assim que conseguir eu faço uma foto e posto aqui.
Abs!
Vou fazer sim Roger, também tenho uns Ilford Positive paper para fazer uns testes… também vou postar fotos quando conseguir adaptar um tripé!
Abraços…Quero ver seus resultado!
Eu devo abrir uma oficina de calótipo em breve. Se quiser participar, posso lhe avisar.
abs!
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