Calótipo - Retrato Luciana Carneiro

Calótipo – Começando nos Retratos

Calótipo - Retrato Luciana Carneiro
Esq.: Retrato em Calótipo (negativo de papel) úmido, não encerado, 18x24cm; Dir: inversão digital. 30/11/2012. Foto de Roger Sassaki

Decidi me aventurar um pouco mais nos retratos em calótipos. Eu sempre fui mais de fazer retratos do que cenas de arquitetura, então estou bem empolgado de descobrir o que dá pra fazer com esta técnica.

Acordei cedo para começar a preparar os papéis para calótipo. Escolhi continuar com o Canson Vegetal 92,5gsm que tem dado bons resultados mas é bem dificil de manipular pois é bem fino e se enrola ferozmente quando flutuado nas soluções. Esse papel também dilata bastante quando molhado, o que me obriga a cortá-lo menor que o tamanho do chassi, onde ele vai molhado. Ou seja, assumo que as imagem sofram alguma distorção ao final, quando o papel está seco novamente. Preparei uma nova solução de iodização #1 e comecei a mergulhar as folhas uma a uma. A folha de papel vegetal, é muito fácil de marcar com dobras principalmente quando está molhado. Agora estou conseguindo fazer esse processo e manter as folhas praticamente intactas!

Depois de mergulhadas por 5 minutos na solução, as folhas são penduradas para secar. A secagem é feita em uma secadora de roupas adaptada pelo Fernando Fortes. Ela é montada na parte superior de um armário de madeira. Alguns cuidados para pendurar as folhas é que elas não grudem nelas mesmas ao secar, colocar um pequeno pedaço de papel na ponta inferior para ajudar a escoar o excesso e manipular o menos possível para evitar marcas. Eu também espero 1-2 minutos para ligar a máquina e intercalo entre ligada e desligada.

Papéis Iodizados secando. Note que só uma pequena parte do papel se toca, apenas para mante-lo aberto.
Papéis Iodizados secando. Note que só uma pequena parte do papel se toca, apenas para mante-lo aberto.

Após secas, as folhas são colocadas prensadas dentro da contateira para ficarem um pouco mais planas. Agora elas estão prontas para serem sensibillizadas ou podem ser guardadas por alguns meses.

Para a solução de sensibilização, escolhi a #1 porém, com metade indicada de ácido acético. Segundo o autor, isso aumenta a sensibilidade, logo exige menos tempo de exposição, mas talvez com menos meios-tons. Creio que a função do ácido acético é “frear” o nitrato de prata e fazê-lo ser sensibilizado de forma mais lenta e controlada.

O primeiro teste que fiz foi um autorretrato sob sol direto, EV(100)15. Não era uma luz ideal, mas eu só queira ver se estava tudo certo para quando minha modelo oficial chegasse. Foi um teste bom pois vi que: estou gordo, a formula funciona e realmente parece mais sensível e o foco da câmera tem algum problema, provavelmente relacionado ao chassi. Existem algumas juntas folgadas na camera, eu fui obrigado a prender algumas delas com fita gaffer na esperança de melhorar a precisão do foco.

calóptipo - autorretrato para teste de processamento
calóptipo – autorretrato para teste de processamento
Dados do autorretrato

Fotometria:
EV(100) 15
Abertura:
f/4.5
Dist. Focal:
240mm
Compensação de fole:
0
Tempo de exposição:
4 minutos
Tempo de revelação:
8 minutos

Fiquei animado pois tive uma foto superexposta com 4 minutos, o que pode significar que 1 ou 2 minutos sejam o suficiente, muito bom para retratos!

Porém, quando finalmente a minha amiga Luciana Carneiro chegou para posar para as fotos, o sol se escondeu atrás das nuvens. Para usar miha segunda chapa do chassi, eu resolvi testar uma foto com flashes compactos. Nem vou colocar aqui o resultado porquê ficou tudo preto (ou branco). Eu quero continuar minhas experiências com luz artificial, mas vou precisar de flashes mais fortes ou iluminação para cinema.

Mas mesmo nublado, o dia parecia bem claro e com o calótipo mais sensível, resolvi tentar mesmo assim. Carreguei o chassi com mais duas folhas de papel sensibilizadas e parti para mais duas fotos.

A primeira foi um retrato de meio corpo com uma luz lateral e fundo preto.

Retrato em Calótipo (negativo de papel) úmido
Esq.: Retrato em Calótipo (negativo de papel) úmido, não encerado, 18x24cm; Dir: inversão digital. 30/11/2012. Foto de Roger Sassaki
Dados do retrato 1

Fotometria:
EV(100) 12
Abertura:
f/4.5
Dist. Focal:
240mm
Compensação de fole:
1
Tempo de exposição:
5 minutos
Tempo de revelação:
50 minutos

Sim, muito problemas! Mas como aqui é um diário de pesquisa, vou colocando as imagens que acho que trazem informações interessantes. A primeira coisa nesta foto é que eu realmente fui meio desastrado na sensibilização. Eu sensibilizei o lado errado e depois tentei corrigir sensibilizando o outro lado. Po besteira, pois no caso do papel vegetal, tanto faz o lado. O resultado é que existem manchas por todo lado, principalmente esta grande superior que na verdade está no verso da imagem. Outra coisa é que o calótipo ficou subexposto e eu tentei compensa na revelação. Embora seja possível, a super-revelação também realça tudo quanto é problema na imagem.

E o problema do foco ainda parece estar lá! O foco caiu na frente de novo, na mão que aparece do lado direito na imagem positiva. Fora o cuidado que eu tenho que ter com a colocação do chassi, não posso descartar a total falta de hábito de mexer numa camera 8×10. Estou começando agora e tenho que ser mais cuidadoso e metódico. Também não podemos desconsiderar o fato de ser uma exposição de 5 minutos!

A segunda foto foi um pouco melhor e a que abre esta matéria. A sensibilização ficou bem melhor! Mais uniforme e só com uma mancha. Mas a luz do dia já tinha ido embora. A foto também ficou sub-exposta mas até que ficou bem interessante. Boa surpresa! O foco esta certo e a profundidade de campo é inexistente nesta lente 240mm.

Calótipo - Retrato
Inversão digital de Retrato em Calótipo (negativo de papel) úmido, não encerado, 18x24cm. 30/11/2012. Foto de Roger Sassaki
Dados do retrato 2

Fotometria:
EV(100) 11
Abertura:
f/4.5
Dist. Focal:
240mm
Compensação de fole:
1
Tempo de exposição:
8 minutos
Tempo de revelação:
50 minutos

Moral da história: Tem que ter sol direto ou só uma leve nuvem!

Mas hoje, lendo uma discussão no grupo do Flickr The Calotype Society, vi uma foto feita em 1849 pelo Gustave le Gray, um dos pesquisadores da técnica, em que ele consegue uma exposição de 5 segundos na sombra! Vou deixar aqui no final para meditarmos a respeito 😉

Abraços,

Roger

“Cópia feita de negativo em papel preparado com iodeto, cianeto e fluoreto de potássio em 5 segundo na sombra.” – Gustave le Gray, 1849

Agradecimento especial ao Estúdio Foca e Wanderlei Camarneiro pelo apoio a essa pesquisa.


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